Lean logistics – Logística enxuta

Discutiremos as bases da Logística Enxuta (Lean Logistics), e como elas se relacionam com os conceitos fundamentais do Pensamento Enxuto (Lean) e das operações logísticas. Para tanto, tomaremos algumas linhas com as definições mais relevantes.

Pensamento Enxuto

O Pensamento Enxuto atende por diversos nomes: Lean, Lean Manufacturing, Lean Thinking, Produção Enxuta, Sistema Toyota de Produção, Toyotismo, Ohnoísmo etc. 

O NIST (National Institute of Standards and Technology dos Estados Unidos) define o Pensamento Enxuto como “uma série de ferramentas e técnicas para gerenciar os processos da organização. Especificamente, o Leanenfatiza a eliminação das atividades que não agregam valor e das perdas nos processos.” Aquilo que é definido como desperdício se caracteriza por tudo que não adiciona valor ao resultado, e se ajusta a uma das clássicas categorias a seguir:

  • Defeitos
  • Espera
  • Transporte
  • Estoque
  • Movimentação
  • Sobre processamento
  • Superprodução

Valor, por sua vez, é definido como aquilo pelo que o cliente final está disposto a pagar, ou seja, só aquilo que gera transformação ou modificação do produto. Para nossos fins nesse artigo, não nos aprofundaremos demasiado nos conceitos e técnicas do Pensamento Enxuto. Mas um dos seus pilares, o Just-in-time, merece nossa atenção. Just-in-time na essência, significa produzir no tempo certo, ou seja, colocar o componente certo, no lugar certo, na quantidade certa, na especificação certa e na hora certa.

Assim, colocando de forma resumida, o Pensamento Enxuto busca a eliminação das perdas (dentre os quais transporte, esperas, movimentação e estoques), e procura viabilizar o Just-in-time, ou seja, a disponibilização do material necessário no momento e local oportunos.

Logística

De SOUZA (2015 p.176), tomamos a seguinte definição de logística:

“O termo logística vem do grego logistikis e significa cálculo, raciocínio e organização financeira no sentido matemático. Originado do verbo francês loger que significa alojar ou acolher, tem como objetivo principal a redução de custos industriais de transporte, armazenagem e movimentação de materiais dentro de uma empresa, tornando mais eficazes seus processos produtivos.”

Daí interpretamos transcender os domínios da logística a efetiva transformação de materiais. Ou seja, num sentido estrito de valor sob a égide do Pensamento Enxuto, a logística, por definição, não adiciona valor ao produto. Será que o cliente final está disposto a pagar por operações logísticas? Em regra, podemos dizer que não! Ademais, da definição acima, podemos identificar os termos “transporte”, “estoque” e “movimentação” como tipos característicos de desperdício no Pensamento Enxuto.

Por outro lado, BOISSON (2007 p. 21) busca uma definição mais moderna de logística no CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals (2007):

“logística é a parte da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e controla de forma eficiente o fluxo reverso, a armazenagem de mercadorias, serviços e informações, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender as necessidades do cliente.”

Fica então o desafio da junção das duas perspectivas: se a logística, por definição, não pode adicionar valor ao produto, por que se deveria investir em métodos e tecnologias nesse segmento? Como o Lean poderia interagir com a logística, e não disputar com ela? Logística é uma forma de desperdício?

Observemos a ilustração esquemática a seguir:

Daí deduzimos que a logística, muito ao contrário da ideia de que conflite com o Pensamento Enxuto, é, na realidade, um dos principais vetores para a consecução do Just-in time. Ora, como isso é possível se a logística não cria valor? Muito simples, ela elimina desperdícios no fluxo de valor, minimiza estoques, reduz movimentação e transporte, diminui esperas, entre outras possibilidades.

Estabelecida a consonância entre as duas frentes, compete-nos desenvolver sobre como os princípios do Pensamento Enxuto podem ser aplicados aos conceitos da logística, de forma a eliminar desperdícios. Isso nos leva à Logística Enxuta…

Logística Enxuta

Camelo, Coelho, Borges e Souza apud SOUZA (2015 p.175) definem a Logística Enxuta como “a aplicação dos princípios do Sistema Toyota de Produção (STP) no desenvolvimento e melhoria dos processos e operações de uma cadeia de suprimentos”. Para BOISSON (2007 p.41), “a logística lean leva a filosofia fundamental do STP e estende esse conceito…por toda a cadeia de suprimento…as noções chave de valor, fluxo de valor, sistema puxado e perfeição são discutidas.”

Assim, não resta dúvida de que os mesmos caminhos e princípios do Pensamento Enxuto podem e devem ser aplicados às operações logísticas, sejam elas inbound ou outbound, sejam de transporte de e para fontes externas ou de movimentação interna de materiais.

Aplicam-se, portanto, os tradicionais princípios do Pensamento Enxuto às operações logísticas:

  • Especificar valor – para definir as estratégias de transporte, movimentação e armazenagem de materiais é necessário, inicialmente, compreender o que é valor. Ainda que, em regra, as atividades logísticas não adicionem valor diretamente, sua eficiência é o vetor da criação de valor por outras atividades.
  • Identificar o fluxo de valor – quando compreendemos o fluxo de valor, percebemos com clareza onde surgem esperas, inventários excessivos e quebras ou restrições de processo. Este é o princípio que orienta a necessidade de intervenções na cadeia de suprimentos (supply chain). É nesse ponto que aplicamos o Mapeamento do Fluxo de Valor.
  • Fluxo contínuo – após identificadas as oportunidades de intervenção na caracterização do fluxo de valor, devem ser criadas soluções que permitam total fluidez dos processos produtivos, que transcorrerão então sem interrupções. Aqui se encontra grande parte da paleta de técnicas do Pensamento Enxuto, sempre buscando o Just-in-time. Ferramentas comumente utilizadas são diagramas de espaguete (estudo e otimização de layout), 5S, dispositivos de one piece flow (racks ou sistemas de dispensação de produtos) etc.
  • Produção puxada – o fluxo contínuo não deve ocorrer “tão rápido quanto possível”, e nem em taxa permanente. Os processos produtivos devem seguir o ritmo da demanda do cliente. Ao ritmo do processo, damos o nome de tempo de ciclo. Ao ritmo da demanda, damos o nome de tempo takt. Todo o esforço do Pensamento Enxuto tem por objetivo final alinhar o tempo de ciclo ao tempo takt. Para uma efetiva sincronização, técnicas geralmente utilizadas são heijunka (nivelamento da produção), supermercados, kanban etc. O fundamental é que nunca percamos de vista a necessidade de os processos serem flexíveis, para que possam reagir rapidamente a alterações no nível de demanda, e reajustar o ciclo ao takt.
  • Perfeição – no Pensamento Enxuto, nada é suficientemente bom! Melhoria contínua das atividades e busca permanente pela perfeição são constantemente incentivadas com base, por exemplo, em repetições do ciclo PDCA e atividades kaizen.

Conclusão

O desafio da logística dentro da filosofia do Pensamento Enxuto está justamente em nivelar toda a cadeia de suprimentos, desde a matéria prima até a disponibilização do produto no cliente, sem interrupções e no takt, viabilizando o Just-in-time pela minimização dos desperdícios. 

Concluímos, portanto, que a logística não só não é contraditória com relação ao Pensamento Enxuto, como é um de seus vetores mais relevantes, ou seja, a Logística Enxuta, ou Lean Logistics, é um dos caminhos mais seguros e impactantes para a eliminação de desperdícios no supply chain. Mais coerente que isso, impossível…


Sobre o autor

Ricardo Bertolucci é eng. Mecânico (POLI/USP), Me. em Administração de Empresas (UNIMEP), MBA Gestão em Saúde (Fac. Unimed, cursando), Master Black Belt. 17 anos consultor por FCAV e Seta. Especialista na implantação de Programa de Excelência Operacional e projetos de melhoria contínua na área de saúde, tendo atuado em empresas como Hosp. Albert Einstein, Hosp. Sírio Libanês (PROADI-SUS) e Medtronic. Atualmente é Associate Consultant na Connexxion.

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