Afinal, o que é Logística 4.0?

O conceito de Indústria 4.0 é caracterizada pela introdução de novas tecnologias na área de manufatura, permitindo a produção integrada vertical e horizontalmente, produção individualizada em massa, máquinas inteligentes que trocam dados entre si

Esse conceito exige novas soluções logísticas baseadas em tecnologias emergentes que afetarão o transporte atual e o gerenciamento das cadeias de suprimentos.

 O conjunto destas soluções logísticas é chamado de Logística 4.0 e muitos autores a consideram como um pré-requisito para a existência da Indústria 4.0.

O termo Logística 4.0 faz referência às três grandes mudanças que a logística sofreu desde que migrou, como ciência, da aplicação exclusivamente militar para a civil, primeiro com a mecanização a vapor em navios e trens, depois com a produção e, mais recentemente, com a adoção da microinformática na década de 1980.

A Logística 4.0 surge como resultado de avanços recentes nas áreas de tecnologia de informação (TI) e de comunicações, buscando melhorias de eficiência nos processos logísticos. Diversas tecnologias emergentes podem ser aplicadas ao conceito de Logística 4.0, sendo que as mais promissoras são:

a) Internet das Coisas (Internet of Things, IoT): A IoT une o mundo virtual da tecnologia da informação ao mundo real “das coisas”. Algumas aplicações da IoT na logística são: o gerenciamento de armazéns, fornecendo uma plataforma de armazenamento colaborativo que facilita o compartilhamento de espaço físico e de informações logísticas por várias empresas, ajudando-as a rastrear o inventário de forma eficiente, melhorando a rastreabilidade e transparência das operações; o monitoramento de tráfego, usando os recursos de detecção por dispositivos GPS instalados em veículos e em comunicação constante via uma rede de dispositivos IoT e, por fim, a gestão de frota, uma parte crítica do setor de transporte e logística, envolvendo a movimentação de ativos e equipamentos, ao implementar aplicativos IoT para manter e gerenciar o transporte e a frota, diminuindo custos e economizando tempo, pois os dispositivos IoT fornecem informações em tempo real sobre as condições da frota e de cada veículo individualmente.

b) Big Data Analytics (BDA): O BDA é especialmente relevante para a logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos, pois fornece as ferramentas para apoiar a tomada de decisões em ambientes cada vez mais globais e dinâmicos. Porém, esta mesma relevância, cria enormes desafios para as organizações que gostariam de colher os benefícios da análise desse fluxo maciço de big data, como: tendências de mercado, padrões de compra de clientes, ciclos de manutenção, formas de reduzir custos e possibilitar decisões de negócios mais acertadas. O BDA envolve novos e potencialmente valiosos conjuntos de dados utilizando métodos de análise descritiva e preditiva. A análise descritiva é mais comumente usada e mais bem compreendida, pois, baseia-se em dados históricos e é uma fonte de informações sobre o que aconteceu no passado e explora estas informações para identificar problemas e oportunidades dentro de funções e processos das organizações. A análise preditiva lida com a questão do que provavelmente acontecerá, explorando padrões de dados pelo uso de estatísticas, simulações e algoritmos, usados para estimar, por exemplo, o comportamento do fluxo e armazenamento de estoques, bem como os custos e níveis de serviço associados. 

c) Blockchain: Contratos e registros de transações formam a base do nosso sistema econômico, legal e político, protegendo ativos, estabelecendo limites organizacionais e verificando identidades e eventos transacionais, governando as interações entre nações, organizações, comunidades e indivíduos. A tecnologia blockchain, popularizada pela moeda digital Bitcoin, é caracterizada como um banco de dados distribuído, descentralizado e de código aberto usado para armazenar informações de transações. O potencial da tecnologia blockchain na logística está no registro da complexidade das entregas feitas constantemente em todo o mundo, com vários atores envolvidos no processo, com canais diferentes para fluxos de informação e comunicação.  Uma cadeia de suprimentos necessita manter registros rastreáveis e compartilhar esta informação com todos os elementos da cadeia. A tecnologia blockchain é um avanço muito importante no registro, autenticação e validação de dados de cadeias de suprimentos. 

d) Impressão 3D: A manufatura aditiva, também conhecida como impressão 3D, é uma tecnologia emergente que pode transformar a cadeia de suprimentos, permitindo que se fabriquem produtos personalizados sem incorrer em quaisquer penalidades de custo na fabricação, já que nem ferramentas nem moldes são necessários. Usadas originalmente para prototipagem rápida, atualmente as tecnologias de impressão 3D tem assumido uma parte importante dos processos de manufatura, tornando viável economicamente, em alguns casos, imprimir localmente produtos finais, evitando o estágio de distribuição física do produto. 

A tecnologia de impressão 3D permite que os usuários criem produtos altamente complexos a partir de uma grande variedade de materiais, podendo reduzir o número total de componentes que devem ser montados para criar um produto acabado. Desse ponto de vista, não é financeiramente eficiente enviar produtos pelo mundo quando a fabricação pode ser feita praticamente em qualquer lugar com um custo muito menor. Com o apoio de fontes locais, a tecnologia de impressão 3D tem o potencial de remontar estruturas de cadeia de fornecimento global estabelecidas como um novo sistema local. 

A figura 1 mostra modelos de substituição da cadeia de suprimentos tradicional pelo uso de impressão 3D.

Fonte: Adaptação do autor de The Impact of 3D Printing Technology on Supply Chain, Lukas Kubac & Oldrich Kodym
Figura 1 − Impacto da impressão 3D nas cadeias de suprimento
Fonte: Adaptação do autor de The Impact of 3D Printing Technology on Supply Chain, Lukas Kubac & Oldrich Kodym

Utilizando cadeias de suprimento suportadas por gráficas 3D (ou lojas de impressão 3D, ou 3D Shops), o cliente final pode adquirir um arquivo com a descrição do produto físico que deseja adquirir. O arquivo então é levado a uma gráfica 3D para impressão do produto final ou o upload do arquivo é realizado online. O produto final não precisa transitar entre os diversos atores da cadeia de suprimento, e sim enviado do fornecedor para o cliente final e impresso em 3D Shops. Já há disponibilidade de impressoras 3D acessíveis e fáceis de configurar, assim, os produtos poderão ser impressos pelo próprio consumidor final em casa.

A Logística 4.0 traz consigo grandes promessas e desafios para todos os atores da cadeia de fornecimento tradicional e não há ainda um modelo consolidado para sua implementação, porém, as indústrias e operadores logísticos estão atentos aos benefícios advindos deste conceito.


Sobre o autor

Jobel Corrêa é consultor sênior da Connexxion Consultoria. Atuou por mais de 20 anos no setor automotivo em empresas como VW e GM, com passagens na área de tecnologia e banking. É Mestre em Eng. de Produção pela FEI, possui MBA com especialização em Estratégia Empresarial pela FGV/SP e é Engenheiro Eletrônico pela Escola de Engenharia Mauá.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *